sexta-feira, 10 de março de 2006

Robinſon Cavalcanti: pós-moderno anti-moderno

O amigo Leandro Bachega mandou o eſboço da paleſtra A Igreja e os deſafios da pós-modernidade, do Robinſon Cavalcanti.

Aqui vão meus comentários:

Bom texto… ſó algumas notas:

4. …Secularismo, como desvalor das instituições e das experiências religiosas, radicalmente privada e sem mensagem ética social (necessidade do Capitalismo).

O Capitaliſmo é ſó um modo de produção, não ſe opondo à ética nem criando uma própria; mas é condicionado por ſeu ambiente. Assim, aparece numa Europa já em ſecularização, haja viſto o latitudinarismo inglês por exemplo.

O que incomoda no Robinson é ſua neceßidade de colocar em tudo a opoſição Socialiſmo–Capitaliſmo. É uma viúva do Socialiſmo, aparentemente.

5. Ocidente: o equívoco da resposta da Teologia Liberal (ou Modernista), uma hermenêutica de desmitificação, e a tentativa de ‘adequar’ a mensagem religiosa à mentalidade do homem moderno, esvaziando-a e tornando-a irrelevante, reforçando o Secularismo e levando ao abandono das Igrejas. Realidade particular do Protestantismo no Primeiro Mundo.

Na verdade ißo ocorreu também, em menor grau, no Romaniſmo. O biſpo de Roma hoje é a peßoa mais reſpeitada, mas menos obedecida da Europa — é a brincadeira que por lá corre.

A Pós-Modernidade vem junto com o fenômeno da Globalização Assimétrica, uma Ordem Internacional Imperial, O peso da ‘idéia única’ liberal-capitalista e o ‘Fim da História’ (Fukuyama).

Aí já se cai no partidariſmo. Chamar os EUA de imperiais é um bocado de exagero. Eles ſe comportam ſim como gendarmerie do mundo, mas incluſive a pedidos, por uma neceßidade que ſeria reſponſabilidade européia em ſuas antigas áreas de influência — às quais a Europa envia dinheiro que serve para ſuſtentar déſpotas nem um pouco eſclarecidos, e alivia criſes humanitárias, mas de nada serve para tranſformar culturas e evoluir economias; e às quais a Europa é incapaz de garantir ſegurança. Por exemplo, a ſituação iraquiana ſeria reſponſabilidade anglo-turco-rußa, mas eßas ‘potências’ não tinham a capacidade.

Quanto à globalização aßimétrica, é a conſeqüência natural do refluxo cultural europeu que concedeu independência às ex-colônias deſpreparadas para ißo. Um fato ſem ſolução a curto prazo, já que ſó uma re-evangelização reformada (não neceßariamente beziana) poderia fazer diferença.

11. …Os Espaços Não-Cristãos Ocidentais (Ortodoxia Oriental, Islã, p.ex.)

Deve ter ſido apenas engano chamar os orientais de não-criſtãos, ou talvez ele tenha querido dizer ‘fora da combinação criſtã-ocidental’.

13. O que temos que reconhecer, diante do novo quadro:

a. …o equívoco da nova Constituição da União Européia;

Equívoco ou reconhecimento de uma triſte realidade? Ou o equívoco não ſeria anterior, de querer juntar o que Deus ſeparou? Aliás por eſte critério, o Braſil e os EUA, meſmo a França, a Alemanha, o Reino Unido, a Eſpanha e a Suíça já ſeriam erros, no mínimo.

b. …ausência de projetos históricos alternativos, violência geopolítica (vítimas de várias formas de neo-colonialismo)

É difícil ter projetos hiſtóricos alternativos quando não ſe reconhecem ſequer as realidades econômicas. Ainda não vi nenhum realiſta, e duvido que seja poßível. Só o que antevejo é reconhecerem-se as duras realidades preſentes, trabalhando para modificá-las pela combinação de Evangelho (preponderante) e Ciência (ſubordinada).

E a vitimização dos ex-coloniais é baſtante ridícula do ponto de viſta hiſtórico. Quem tem matado o afro-aſiático-latinoamericano já há cinqüenta anos é o próprio afro-aſiático-latinoamericano mais rico e poderoſo, como ſempre foi até as Grandes Descobertas. E mesmo neße interregno, quem eſcravizava o africano era o africano. Muitos dos preſos de Guantánamo o foram por iraquianos reſpondendo a ofertas de recompenſa por captura de terroriſtas?

14. O equívoco de se vincular, necessária e genericamente, o terrorismo com o fanatismo ('fundamentalismo') religioso, ou com qualquer expressão religiosa em particular. A complexidade e a diversidade do fenômeno.

Não há engano nenhum aí, o terroriſmo do ſéculo XXI é baſicamente muçulmano, principalmente com a vitória recente ou próxima sobre IRA, ETA e grupos ſimilares.

O papel da tecnologia de comunicação: mídia, internet, telefonia móvel.

Ludiſmo? Difícil ſaber. O que os meios de comunicação têm a ver com o conteúdo da comunicação? Não ſe eſtá a discutir meios quentes vs frios (cinema vs televiſão, por exemplo).

A menos que ſe fale da maßificação da ſociedade de consumo e conſeqüente reação por parte dos excluídos dela.

Tese: O Fanatismo Religioso como 'Bode Expiatório' para uma Globalização Assimétrica, para as questões sociais irresolvidas (e onde não há vontade política de se resolver)

Vontade política? Que tal condições políticas objetivas? Lula prova que vontade não baſta… ou alguém duvida que ele, e o PT, têm vontade de fazer a Reforma Agrária, a diſtribuição de renda, eliminar a miſéria etc?

19. As igrejas evangélicas estão fragilizadas pelo excessivo divisionismo denominacional, fruto da própria fragmentação e desprezo à autoridade da Pós-Modernidade, e da falta de estudo e valorização de uma Eclesiologia Bíblica e Histórica.

Por outro lado, o denominacionaliſmo tende a validar os deſvios doutrinários e práticos hiſtóricos. Por ißo ſou localiſta.

É triſte que o Robinſon meſmo não reſiſta a modas, como a ordenação feminina, curſos Alfa etc.

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