segunda-feira, 10 de março de 2008

Arte e padrões abertos

Normalmente ſe aßocia a idéia de ſiſtemas abertos à Informática, principalmente na área de programação. Ultimamente, eſpecificamente a programas livres. Mas a verdade é mais complexa: exiſtem padrões abertos também na área de equipamentos, como as interfaces de computador PCI, USB, FireWire, SCSI, ATA… e mesmo fora da Informática. Na fotografia, os padrões abertos mais famoſos ſão a baioneta para câmeras reflex digitais Quatro Terços e a interface TTL para flash associada, os cartões de memória Compact Flaſh e sD, e os negativos digitais DNG e TIFF/EP.

Fica viſível que, em fotografia, apenas Compact Flaſh é um padrão amplamente difundido, até meſmo dominante; sD chega perto, enquanto o TIFF/EP e ſeu derivado DNG, aßim como o ſiſtema Quatro Terços, ſão francamente minoritários.

Ora, direis, ‘fotografia é arte, e o que importa é o fotógrafo, não o equipamento’. Mas primeiramente, ſou um Informata, um técnico, onde por maior ſeja o lado humaniſta (no ſentido amplo, não no de opoſição ao Criſtianiſmo) há também o lado perfeccioniſta; por eße lado, creio que os ſiſtemas abertos ajudam a conduzir à excelência técnica, que ſó pode ajudar a arte. Por outro lado, os padrões ajudam a diminuir as incertezas e complexidades do meio artíſtico, e aßim mais uma vez a arte é favorecida. Finalmente, o apriſionamento tecnológico derivado de padrões proprietários preßupõe ſegredos e dependência do indivíduo e das comunidades em relações a corporações, geralmente de grande porte, o que não parece coadunar com a expreßão artíſtica.

Alguém dirá ainda, ‘quanto romantiſmo’! Muito pelo contrário, o romantiſmo é o artiſta no centro de ſua obra, portanto profundamente egocêntrico. Padrões abertos favorecem a comunidade, ſão grandes equalizadores, e aßim tendem a diminuir o egocentriſmo e a diferenciação por ter ou não ter; ainda haveria diferenciação, mas por excelência, não por excluſividades.

Por fim, dirão que ‘padrões ſão paſteurizadores, impedem a inovação e a originalidade’. Mas eße é um engano fundamental ſobre a própria natureza de padrões abertos e seu opoſto, o apriſionamento tecnológico. Na verdade, o apriſionamento tecnológico impede a inovação e a originalidade, porque nele os padrões proprietários têm de permanecer ſecretos, impedindo que o conhecimento ſe eſpalhe e propicie avanços; e têm de mudar perifericamente quando o conhecimento ſe eſpalha para prevenir a compatibilidade ampla, preſervando a lucratividade do fornecedor, aßim roubando energia que poderia ter ſido dedicada a avanços reais.

Ao contrário, com ſiſtemas abertos os detalhes por aßim dizer mecânicos permanecem eſtáveis e não mudam ſem boa razão, e os ſiſtemas tendem a permanecer tão ſimples quanto poßível. Ora, tanto a eſtabilidade quanto a ſimplicidade favorecem as reais inovações, como bem ſabe qualquer engenheiro, ſeja formado ou prático (como eu); a inſtabilidade e a complexidade é que dificultam as inovações, juſtamente por fazer com que nos preocupemos com a mecânica, não com a utilidade.

Portanto, os fotógrafos, aßim como os informatas, ignoram os padrões abertos arriſcando a ſi meſmos, e prendem-ſe a ſiſtemas proprietários em prejuízo de ſua própria arte — para não dizer também de ſeus próprios bolſos.

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