quarta-feira, 21 de maio de 2008

‘O Segredo’ ſem ſegredo

Duma reportagem por Pablo Nogueira, na Galileu de julho de 2.007 AD, da Editora Globo:

O aspecto material das ambições dos adeptos não é o fator mais curioso no sucesso de "O Segredo", mas sim o fato de a obra não oferecer nada de realmente secreto. Ou mesmo de novo. "É o tradicional discurso sobre as virtudes do otimismo e do pensamento positivo e da auto-estima tantas vezes repisado", diz a antropóloga Carla Martelli, professora da Unesp e estudiosa da literatura de auto-ajuda. Segundo ela, essas idéias já eram veiculadas nos primeiros tempos do movimento, por volta do final do século XIX e começo do XX.

Dar roupagem contemporânea a coisas antigas é mais uma das grandes sacadas de Rhonda e colaboradores. Esse é o ponto em que a ciência assume o posto outrora ocupado pela religião. Em vez de fazer o leitor abrir o baú da fé, a autora opta pelo conhecimento, ou pelo menos um verniz que banhe as chaves para o sucesso e a felicidade com argumentos menos esotéricos.

Para tanto, a autora começa "O Segredo" afirmando que o Universo é regido por leis. Entre elas uma que ela chama de lei da atração, que estipula que cada um de nós atraia para sua vida aquilo que tem na mente. "Tudo o que entra na sua vida é você quem atrai, por meio das imagens mentais", escreve no livro o palestrante norte-americano Bob Proctor, um dos mais destacados participantes do projeto. Byrne aprofunda a idéia: "Cada um contém uma força magnética dentro de si mais poderosa do que qualquer coisa neste mundo emitida por seus pensamentos". Para ambos, nem é preciso acreditar na lei para que ela entre em ação. "A lei da atração é uma lei da natureza e tão imparcial e impessoal quanto a lei da gravidade. É precisa, exata", afirma Byrne.

O filósofo Osvaldo Pessoa Júnior, professor da USP e especialista em interpretações filosóficas da física quântica, diz que a lei da atração é um exemplo do que em filosofia se chama de naturalismo animista. Essa visão filosófica existe desde muito antes da ciência moderna. Na Antiguidade, era defendida na Grécia por pensadores como Pitágoras e os filósofos estóicos. É uma corrente que compara o Universo a um organismo vivo e dota a natureza com uma espécie de "alma". Nela estariam as explicações para muitos fenômenos. Por exemplo, os seres e objetos dotados de almas semelhantes atrairiam uns aos outros. Daí a crença grega de que "semelhante atrai semelhante".

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