terça-feira, 9 de maio de 2017

Versões da Bíblia em português do Brasil

A XXI (Almeida século 21, da Vida Nova) foi feita basicamente pela mesma equipe da NVI, inclusive sob a liderança do Saião. Quanto aos textos usados, idem: como na NVI, eles usam a base crítica mas, diferentemente da NIV, preservam os acréscimos posteriores presentes nos manuscritos tardios que fundamentaram o Textus receptus. Essa é uma razão pela qual as críticas da Trinitariana e vários outros adeptos do texto bizantino são desonestas.

Quanto à linguagem, a XXI começou como um projeto modesto para eliminar os arcaísmos restantes na Revisada (equivalentes aos da Atualizada, mas incorrendo em menos interpretações que esta), mas acabou se percebendo que o que mais prejudicava a compreensão da Almeida não era vocabulário, mas as ordens de frase atípicas do português por importação direta do grego, hebraico e aramaico, mais influência latina. Assim, colocaram-se as frases em ordem direta, o que reproduz mais fielmente o nível de linguagem dos originais. Assim, temos a precisão da linguagem castiça da Almeida (uso de todos os tempos e pessoas verbais, por exemplo, em vez de se limitar ao coloquialismo brasileiro da NVI), sem arcaísmos, helenismos e hebraísmos.

Em relação à Atualizada, além de usar a ordem natural portuguesa, ela preserva a prosódia brasileira, talvez exageradamente ao conformar-se ao proclítico, eliminando muitas ênclises e mesóclises em favor de construções mais longas — por exemplo, ‘vou te atacar’ em vez de ‘ferir-te-ei’ — o uso do verbo atacar em lugar de ferir é louvável, por reproduzir melhor o significado do original, mas o ‘eu vou te‘ em vez da mesóclise talvez seja coloquial demais; o uso de um proclítico com o verbo flexionado no futuro, apesar de mais incorreto gramaticalmente, fosse mais elegante: ‘te atacarei’.

Em relação à NVI a XXI, além de preservar o nível de linguagem da Almeida, é um trabalho em curso, sofrendo as revisões necessárias pela crítica da igreja, enquanto a NVI ficou estagnada porque a Zondervan estancou com o encalhe da primeira edição, que ficara conhecida como ‘a Bíblia do Caio Fábio’. A desvantagem é que reverteu aos versículos, enquanto a NVI já adotara os parágrafos.

NVI, NVT e a nova Atualizada não são português, mas ‘crentês’: contrariamente ao uso universal da segunda pessoa do singular como forma íntima de tratamento (‘tu’ em português e francês, Du em alemão, thou em inglês), essas versões macaqueam o uso ‘crente’ do ‘tu’ nas orações a Deus, este calcado na familiaridade com a Revista e Corrigida, e usam o respeitoso ‘você’ em geral, reservando o ‘tu’ para dirigir-se a Deus. Uma Bíblia só para crentes velhos, não para o povo, e que preserva a incapacidade dos crentes (e até dos pregadores!) atuais de usarem com domínio o registro de linguagem que almejam.

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