Mais um artigo enviado pelo amigo Bachega, preciſando duma análiſe.
A Praga
Alves, Rubem
Triſte… para fazer um argumento (válido) contra a infalibilidade papal, ele ataca o caſamento.  E também triſtemente, eße tipo de argumento ſutil e deſtrutivo é típico do Rubem Alves, e é típico da Folha publicar eßas coiſas baixas.
É bom atentar para o que o papa diz.  Porta-voz de Deus na Terra, ele só pensa pensamentos divinos.  Nós, homens tolos, gastamos o tempo pensando sobre coisas sem importância tais como o efeito estufa e a possibilidade do fim do mundo.  O papa vai direto ao que é essencial: o segundo casamento é uma praga!
Olha que ridículo.  Que poßibilidade de fim do mundo?  Hoje ſó há duas: a Segunda Vinda ou a guerra nuclear.
E quem diße que recaſamentos fora dos parâmetros bíblicos não ſão piores que o efeito eſtufa?  Eſte tem ſido exagerado a ponto de arrancar exortações por parte de cientiſtas que crêem que tem-ſe deſacreditado a ciência para conſeguir verbas aßuſtando o povo.
Aliás, o papa não vai direto ao que é eßencial
: ſua afirmação eſtá contida em Sacramentum Caritatis, uma Exortação Apoſtólica Pós-Sinodal Ao Epiſcopado, Ao Clero, Às Peßoas Conſagradas e Aos Fiéis Leigos Sobre a Eucariſtia, Fonte e Ápice da Vida e da Mißão da Igreja
; ou ſeja, é algo que não intereßa nem ao Rubem Alves nem àqueles que penſam como ele, os quais ou não fazem parte da igreja romaniſta, ou o fazem hipocritamente.
Está certo.  O casamento não pertence à ordem abençoada do paraíso.  No paraíso não havia casamento.  Na Bíblia não há indicação de que as relações amorosas entre Adão e Eva tenham sido precedidas pelo cerimonial a que hoje se dá o nome de casamento: o Criador, celebrante, Adão e Eva nus, de pé, diante de uma assembléia de animais, tudo terminando com as palavras sacramentais: E eu, Jeová, vos declaro marido e mulher. Aquilo que eu ajuntei os homens não podem separar…
Ele confunde cerimônia com fato.  Eſquece que caſamento e acaſalamento deviam ſer a meſma coiſa, e o eram antes da Queda.
Os casamentos, o primeiro, o segundo, o terceiro, pertencem à ordem maldita, caída, praguejada, pós-paraíso.  Nessa ordem não se pode confiar no amor.  Por isso se inventou o casamento, esse contrato de prestação de serviços entre marido e mulher, testemunhado por padrinhos, cuja função é, no caso de algum dos cônjuges não cumprir o contrato, obrigá-lo a cumpri-lo.
Foi um padre que me ensinou isso.  Ele celebrava o casamento.  E foi isso que ele disse aos noivos: O que vos une não é o amor.  O que vos une é o contrato
.  Aprendi então que o casamento não é uma celebração do amor.  É o estabelecimento de direitos e deveres.  Até as relações sexuais são obrigações a ser cumpridas.
E qual o problema com ißo?
É bem próprio do hedoniſmo moderno crer que a obrigação não pode ſer prazeiroſa.  O que, em última inſtânica, remete à própria Queda.
Na verdade, a obrigação dá condições para a ſobrevivência e deſenvolvimento do amor.  Sem a obrigação permanente, irreverſível, o amor é deſtruído face às dificuldades do dia-a-dia.
Agora imaginem um homem e uma mulher que muito se amam: são ternos, amigos, fazem amor, geram filhos.  Mas, segundo a igreja, estão em estado de pecado: falta ao relacionamento o selo eclesiástico legitimador. Ele, divorciado da antiga esposa, não pode se casar de novo porque a igreja proíbe a praga do segundo casamento.  Aí os dois, já no fim da vida, são obrigados a se separar para participar da eucaristia: cada um para um lado, adeus aos gestos de ternura…  Agora está tudo nos conformes.  Porque Deus não enxerga o amor. Ele só vê o selo eclesial.
Obviamente Alves, muito eſperto, varre para debaixo do tapete o pequeno detalhe do adultério…
O papa está certo.  O segundo casamento é uma praga.  Eu, como já disse, acho que todos são uma praga, por não ser da ordem paradisíaca, mas da maldição.  O símbolo dessa maldição está na palavra ‘conjugal’: do latim ‘com’, junto e ‘jugus’, canga.  Canga, aquela peça pesada de madeira que une dois bois.  Eles não querem estar juntos.  Mas a canga os obriga, sob pena do ferrão…
O fato etimológico é intereßante.  A aplicação, errônea.  O argumento, deſoneſto.  Mas o que eſperar dum aliciador de jovens ſeminariſtas à ſodomia?
Por que o segundo casamento é uma praga?  Porque, para havê-lo, é preciso que o primeiro seja anulado pelo divórcio.  Mas, se a igreja admitir a anulação do primeiro casamento, terá de admitir também que o sacramento que o realizou não é aquilo que ela afirma ser: um ato realizado pelo próprio Deus.  Permitir o divórcio equivale a dizer: o sacramento é uma balela.
Até Roma permite a anulação, e não é tão rara quanto ſe crê.  O atual papa acaba de pedir a criação de mais tribunais ecleſiáſticos para aviá-los, meſmo que a avalanche de anulações válidas em ſi já ſeja um péßimo ſintoma; é, no mínimo, honeſto.  E na Bíblia há divórcios permitidos.  Mais um argumento inválido.
Donde, a igreja é uma balela…  Com o divórcio ela seria rebaixada do seu lugar infalível e passaria a ser apenas uma instituição falível entre outras.  A igreja não admite o divórcio não é por amor à família.  É para manter-se divina…
A igreja, sábia, tratou de livrar seus funcionários da maldição do amor. Proibiu-os de se casarem.  Livres da maldição do casamento, os sacerdotes têm a suprema felicidade de noites de solidão, sem conversas, sem abraços e nem beijos.  Estão livres da praga…
É tudo o que ſe ſalva deße texto.