segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Torre de Babel, um texto político: impérios & localiſmo

Fico impreßionado com a paucidade de opiniões políticas biblicamente fundamentadas. Geralmente se reſumem a deſcobrir ſe eſta ou aquela nação é mais ou menos criſtã, meſmo entre proteſtantes que deviam ſaber que Seu reino não é deſte mundo — o que trai a inegável permanência do criſtopaganiſmo normalmente aßociado ao medievaliſmo, mas permanecendo em corações & mentes por ſer ſimpleſmente a teologia do homem natural, não redimido, influenciada pela ſuperſtição.

Mas o que ſeria então a política criſtã? Difícil dizer. No ſentido mais amplo, ſimpleſmente a aplicação da vida criſtã na eſfera política. Ißo pode ir deſde um ſimples poſicionamento teſtemunhal e profético, ſem maiores pretenſões, até o dominioniſmo (que rejeito), paßando entre outras poßibilidades por alguma forma de ‘democracia criſtã’ (organização partidária criſtã).


Entretanto, creio que há textos bíblicos que nos mostram um pouco de como ſeria uma política do reino divinal, ſupondo que o Reino ſe eſtabeleceße neſte mundo com algum grau de autonomia humana; onde o homem não foße pecaminosa e falſamente autônomo como hoje, quando na verdade é eſcravo do pecado, nem a πόλις foße uma teocracia direta com Javé nos microgereciando, mas onde tivéßemos de decidir com baſe em Seus princípios, ſabendo‐nos ainda pecadores. O que ſeria outra maneira de dizer uma política criſtã para um mundo caído, e portanto com algum grau de aplicabilidade inda hoje, meſmo que apenas como um ideal inatingível, mas neceßário para nortear o penſamento & a ação.


Provavelmente o que eſcrevo não é novidade alguma — mas ainda não achei referências de quem tenha interpretado como eu. Certo de que houve quem o fizeße, publico na eſperança de que ou me moſtrem onde errei, ou de que me apontem quem me precedeu.


O mais antigo texto político de noßa civilização que continua relevante me parece ſer Gêneſis (Gn) i:28, quando Deus diz a Adão & Eva: Frutificai, multiplicai‐vos, enchei a Terra… (tradução brasileira de 1917, ortografia atualizada). E, em Gn (Gêneſis) ix:1, Deus renova a ordem a Noé, ſeus filhos & noras: Frutificai, multiplicai‐vos & enchei a Terra.; e novamente no verſículo (v) 7: …frutificai, e multiplicai‐vos; povoai abundantemente a Terra


Tomados em ſeu ſignificado mais imediato, parece ſimpleſmente a ordem para a fertilidade humana, hoje deplorada ao menos pelos liberais na forma do movimento da aljava cheia (quiverfull). Mas, embora eu creia que eßes textos de facto preſcrevam o controle de natalidade voluntário dentro do caſamento, eße é aßunto para outra ocaſião: o que quero expor é como entendo que o primeiro mandamento (frutificai é o primeiro mandamento da Bíblia, antes do primeiro mandamento dos dez de Êxodo xx), também conhecido como o mandato cultural, ſe aplicaria à ordem política num mundo que foße criſtão, ao menos culturalmente.


Creio que a implicação política do mandato cultural aparece na história da torre de Babel, em Gn xi: não sejamos eſpalhados sobre a face de toda a Terra. …Diße Javé: Eis que o povo é um ſó, e todos têem uma ſó língua. Iſto é o que começam a fazer: agora nada lhes ſerá vedado de quanto intentam fazer. Vinde, deſçamos e confundamos ſua língua, para que não entendam a língua um do outro. Aßim Javé os espalhou dali ſobre a face de toda a Terra


Me parece que eße texto proſcreve qualquer tentativa de criar grandes unidades políticas, englobando mais do que uma nação. Obviamente a definição não é preciſa, porque temos dificuldade de eſtabelecer o que é língua, o que é dialeto, o que é falar ou ſotaque. Mas obviamente eſtados multinacionais como Rúßia, Braſil, China, Índia, Eſtados Unidos eſtariam proſcritos e teriam de ſe fragmentar em ſuas partes conſtituintes, aßim como potências hoje conſideradas menores como o Reino Unido da Grã‐Bretanha, como a França ou a Eſpanha, para não falar da maior parte dos paíſes africanos e aſiáticos.


O valor prático imediato deßa idéia creio ſer nulo. Entretanto, poderia ſer uma ferramenta que nos ajude a julgar o mundo, evitando a ſacralização de qualquer ordem política, viſto que todas foram geradas em pecado e eſtão condenadas à deſtruição no grande dia de Javé… e podemos imaginar um pouco como ſeria: um mundo ſem grandes eſtados, onde cada eſtado ſeria pouco mais ou menos como um cantão ſuíço ou o eſtado de Iſrael, relativamente homogêneo lingüiſticamente, com alianças temporárias para defeſa contra eventuais bolidores e liberdade de movimento de peßoas e de mercadorias. Ninguém ſeria o gen d’arme do mundo, ninguém poderia jogar a culpa de ſeus infortúnios nalgum império.