terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O que está errado com o mundo — perspectiva humanista

Aproveitando o pretexto de um comentário em lista de discussão para responder a uma pergunta antiga dum amigo.

Nada a ver com maltusianismo. Mas fico impressionado como alguém acredita em despopulação...

Alguns fatos:

1. Todas as previsões de crescimento populacional têm sido superestimadas no último meio século. De memória, no Brasil, pelo menos nos últimos trinta anos. As poucas exceções de que sei são pequenas surpresas como recuperações insuficientes nas tendências negativas da Rússia, recentemente, e quando da diminuição da semana de trabalho na França há uma década. Nada que altere a atual transição demográfica.

2. A atual crise econômica no Primeiro mundo é principalmente demográfica: sem perspectiva de manutenção dos níveis demográficos, há pouca perspectiva de crescimento econômica, e portanto pouco incentivo para investimentos. Claro, sem diminuir o peso do endividamento da Europa latina, mas mesmo esse endividamento não seria tão grave se houvesse perspectiva de crescimento demográfico e, portanto, econômico. Embora a crise tenha sido catalisada pelo estouro da bolha imobiliária, a própria gravidade do estouro da bolha deveu‐se em grande parte ao fato de que não há perspectivas para o mercado imobiliário quando se controlam as fronteiras num contexto de deficiência de nascimentos.

3. Depois da referida crise, o único país do Primeiro mundo que tem perspectiva de crescimento demográfico e, portanto, econômico, é Israel. Que, irrelevante populacionalmente, ameaçado constantemente de destruição por vizinhos que perigam obter armas de destruição de massa, professando uma religião que se recusa a proseilitizar e sendo demonizado por um consenso hegemônico cultural e dos meios de comunicação de massa, não pode oferecer nenhuma contratendência no mundo.

4. O Brasil está abaixo da taxa de reposição populacional há cerca de duas décadas. Nossa população economicamente ativa atualmente se sustenta apenas com base na imigração, e pode começar a baixar a qualquer momento.  Salvo um grande aumento da imigração, e mantendo‐se a tendência atual, nossa população começa a cair no máximo em 2 030.

5. Com honrosas exceções parciais como os países germânicos da Europa e os tigres do Extremo Oriente (Japão, Coréia do Sul, Cingapura, Formosa…), o Brasil e o mundo estão despreparados para o chamado ‘decrescimento’ — que, no Brasil, mal passa dum grupo no Facebook… Despreparados tanto na condução geral da política econômica (poupança irrisória ou negativa, descalabro educacional, gastos sem investimentos efetivos &c) quanto na bomba relógio das aposentadorias e dos sistemas de saúde, que já deveriam estar em transição há tempos do sistema de caixa para o de poupança.

6. Toda a tendência cultural ora em curso parece piorar a situação, enfatizando hedonismo (consumismo, drogas, celebridades e ‘cultura’ pop, ‘direitos’ (sem deveres correſpondentes) e autoßatisfação) em vez de frugalidade e cultura, e individualismo em vez de família e filhos, deveres e altruísmo. Até o altruísmo hodierno é, por assim dizer, de butique; nossa esquerda, dogmática em vez de pensante, da variedade ‘caviar’ ou festiva em vez de coletivista — mais para Estado e hegemonia que para kibutzim e comunas —; e nossas famílias, centradas no passado (paixão) em vez de no futuro (filhos).

É por isso que creio caminharmos a passos largos para uma nova Idade média, no sentido de Era das trevas. Embora por um lado talvez aquela era não tenha sido tão ruim, não tendo sido um fenômeno global e não tendo tido meios de destruição tão baratos, massivos e eficazes; e por outro minha bola de cristal seja, obviamente, permanentemente
embaçada…

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