sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Os Salmos para Cantar: O Livro dos Salmos para ser Cantado

Recebi anteontem meu exemplar, capa dura. Infelizmente não sou bom nem de poesia, nem de hebraico, nem de melodia, portanto não posso criticar o mais importante.



Já cadastrei no Goodreads, com o nome do autor como ficará para a posteridade, na grafia padrão portuguesa segundo o formulário ortográfico de 1 943, ainda em vigor: Jônatas. Não tem ISBN, o número que identifica os livros para o comércio e também em bases de dados como o Goodreads e outras. É impresso e encadernado sob demanda pela rede de gráficas de conveniência Alpha Graphics, sob o nome de AGbook, também conhecido como Clube do autor. A edição é bem cara, com o frete saiu quase R$ 120. Pode-se encomendar mais barato em capa mole.



O trabalho de diagramação, impressão e encadernação não está no nível do saudoso Cantor Cristão, mas até aí nem o Hinário presbiteriano está. É o que se pode esperar no Brasil de hoje, inda mais de um esforço individual. Como o autor não respondeu ainda minha solicitação de contato pelo Facebook, não posso oferecer meus préstimos para melhorar ao menos a diagramação.



Tem a melodia e a primeira estrofe geralmente nas páginas da esquerda (pares), com o resto das estrofes nas páginas da direita, sem a pauta musical. Prefiro o formato do Cantor cristão e do hinário presbiteriano, com todas as estrofes dentro da pauta musical; mas, como alguns salmos têm muitas estrofes, talvez isso não fosse prático.



O trabalho é integralmente individual: Jônatas Rosa Frate faz questão de dizer, no verso da página de rosto, que idealizou, traduziu, adaptou, revisou, diagramou e editou a obra. Uma decisão curiosa para uma obra tão difícil e importante, talvez no interesse da expediência. Espero que o autor a reveja e aceite colaboradores proximamente.



Baseou-se no códice de Alepo, o que me parece uma decisão questionável. Como ele mesmo nota, o hebraico permite freqüentemente várias leituras e, portanto, traduções, o que torna imprescindível a uma boa tradução o recurso a outros manuscritos, preferencialmente mediado por uma boa edição crítica (não confundir com alta crítica). Não sei porque ele escolheu o códice de Alepo em vez de uma edição crítica ou do texto massorético, que é a base das atuais edições críticas.



O papel é comum, não o papel da Índia (papel-Bíblia) do Cantor cristão. A encadernação, apesar de ser capa dura, dá impressão de ser medíocre; a ver a durabilidade, importante para uso congregacional. Fazem falta números de página, ao menos no Prefácio.



A capa foi diagramada ingenuamente, com o título grafado em três tipos diferentes de três famílias diferentes, cada uma numa linha: ‘O livro dos’ em uma fonte serifada itálica pequena, ‘Salmos’ em itálico sem serifa grande, e ‘Para ser Cantado’ em uma fonte fantasista (semicursiva) pequena, em duas cores diferentes (as duas primeiras ocre, a última branca) sobre fundo preto. Isso não dá boa impressão.



A diagramação é pobre: o prefácio não foi hifenizado mas foi justificado, levando a linhas feias, com palavras espaçadas demais. O uso de pontuação e tipografia (por exemplo, os pontos finais e os itálicos no primeiro parágrafo) é idiossincrático; o uso de maiúsculas para os títulos, tanto da obra quanto divinos, assim como no texto da folha de rosto e seu verso é exagerado e viola a gramática portuguesa, sendo exagerado até para o padrão anglossaxão; os nomes divinos estão em caixa alta, o que é feito, em vez do versalete que os valorizaria melhor e tornaria a leitura mais agradável e fluida.



A influência anglossaxã também é patente no uso exagerado de artigos no texto do Prefácio; a verificar se isso também não prejudicou o texto significativamente; isso parece ser o caso no final da primeira linha do salmo 145, onde ele escolheu dizer ‘Senhor, meu Deus, o rei’ em vez de ‘Senhor, meu Deus e rei’. Como trata-se de uma tradução de uma porção significativa das Escrituras sagradas, seria útil ter uma edição anotada pelo tradutor, explicando e justificando suas escolhas textuais, de tradução e de estilo.



Cada salmo começa por uma capitular exagerada e por vezes centrada na linha, por vezes superior, o que é inconsistente visualmente.



Não há a tradicional indicação de métrica, nome e autor de melodia em cada salmo, nem os tradicionais índices de métricas, nomes e autores de melodia; entretanto, há no final uma lista de ‘Procedência das melodias dos salmos’, declinando para cada salmo origem ou nome da melodia, lugar de origem e autor e ano da melodia e do arranjo, embora nem todos os salmos tenham todas essas informações; freqüentemente omitem-se datas e locais de arranjo. Alguns títulos alemães foram traduzidos em inglês em vez de português, o que é injustificável.



Todos os direitos de cópia foram reservados, o que não anima muito quanto à possibilidade de evolução da obra. Espero que o autor a libere, não necessariamente em domínio público mas ao menos sob um esquerdo de cópia, como por exemplo a Creative commons que exige atribuição e permite uso comercial.



Entretanto, a obra tem um grande mérito: existir. Que eu saiba, é o único saltério jamais produzido em português, pelo menos em português do Brasil. Certamente é o único prontamente disponível. Se não se acharem erros musicais, de tradução ou teológicos mais graves, consigo imaginar que seja amplamente adotado, e não apenas por adeptos da salmodia exclusiva, que aliás considero equivocada — me parece que a Bíblia mesmo contradiz isso ao reproduzir outros cânticos além dos Salmos (cânticos de Moisés, Míriam, Maria, até Paulo), que então ou garantem a possibilidade de a igreja criar novos poemas, ou exigiria que essas poesias também fossem musicadas e incluídas nos livros de cânticos da igreja. O autor tem a sabedoria de não defender a salmodia exclusiva, que tenderia a limitar o alcance da obra.

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